segunda-feira, 20 de junho de 2011

Bolero em sí menor

já me basta sentir

já me basta sonhar

eu não quero dormir

sem o dia acordar


quando a sede se vai

num copo vazio

toda água se esvai

lá do leito do rio


um menino falou

como seu mundo era friu

sua água migrou

vinda suja do rio


tão gingado é o povo

tão futura a nação

tanto água e esgoto

juntas no mesmo portão


quando a febre se esvai

é que a vida partiu

quando a morte distrai

um coração se feriu


já que o caldo engrossou

a polícia surgiu

junto a esta canção

tornei-me febril


penso se errado é só o que dizem

penso se a dor é só pra quem trás

penso se a sorte é só no que dizem

penso se o amor é só de quem faz

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A experiência amorosa exige sacrifício. Não se ama pra ser recompensado. O amor é a própria recompensa. Não resisto em citar Drummond, que fala da poesia coisa parecida: “Poesia, o perfume que exalas é tua justificação”. Não há amor fácil, mas todo amor é maravilha, saúde, “remédio contra a loucura”, coisa que Guimarães Rosa ensinou. É a experiência humana mais exigente. Não é contrato, troca de favores, investimento, é entrega e compromisso. Do “sacrifício” de amar nasce a mais perfeita alegria. Ninguém faz cara feia quando se sacrifica por amor. Não se ama, trata-se da morte do ego, tarefa a ser feita até o último suspiro.
Adélia Prado.
A gente precisa se incomodar menos. Tem tanta coisa bonita pra gente viver, aprender. Me choco com as coisas que ainda não sei. Quero ler mais livros. Escutar mais músicas. Assistir mais filmes. Quero ter menos preguiça, sentar mais no chão, correr mais pelo parque. Sabe, essas coisas fazem com que eu me sinta livre. Acho ruim a gente ter que se aprisionar. Quero sair de noite, caminhar sem rumo, ficar olhando para o céu. Pode soar bobo, mas isso pra mim é tão importante.
(Clarissa Corrêa)
Mas agora tá tudo bem. Aprendi que quanto mais superficialmente você costura uma relação, menos chance há de se afogar. Navegar é preciso, o negócio é não faltar nas aulas sobre como boiar em águas nem doces nem salgadas. Hoje posso dizer convicta que prefiro o clarão das aparências que a penumbra de mergulhar fundo, sem saber como respirar abaixo do chão. Agora, como boa marinheira de incontáveis viagens, finalmente sei como desatar nós.
Gabito Nunes in Agosto amargo
Ou me quer e vem, ou não me quer e não vem. Mas que me diga logo pra que eu possa desocupar o coração. Avisei que não dou mais nenhum sinal de vida. E não darei. Não é mais possível. Não vou me alimentar de ilusões. Prefiro reconhecer com o máximo de tranqüilidade possível que estou só do que ficar a mercê de visitas adiadas, encontros transferidos.
Caio Fernando Abreu
Toda noite de insônia eu penso em te escrever, pra dizer que o teu silêncio me agride.
Engenheiros do Hawaii
(Mas finjo de adulto, digo coisas falsamente sábias, faço caras sérias, responsáveis. Engano, mistifico. Disfarço esta sede de ti, meu amor que nunca veio – viria? virá? – e minto não, já não preciso.) Preciso sim, preciso tanto. Alguém que aceite tanto meus sonos demorados quanto minhas insônias insuportáveis. Que me desperte com um beijo, abra a janela para o sol ou a penumbra. Tanto faz, e sem dizer nada me diga o tempo inteiro alguma coisa.
(Caio Fernando Abreu)
Deixa o ciúme passar e sigamos juntos. Teu corpo combina com meu jeito nós dois fomos feitos muito pra nós dois. Não valem dramáticos efeitos, mas o que está depois. Não vamos fuçar nossos defeitos, cravar sobre o peito as unhas do rancor. Lutemos mas só pelo direito ao nosso estranho amor. Deixa eu gostar de você.
Caetano Veloso

sexta-feira, 8 de abril de 2011

“Ultimamente, dei para falar sozinho. Não falo baixinho não, falo sozinho mesmo, principalmente à noite, deitado na cama e tentando entender o que se passa comigo. Falo alto e chego a ficar com medo. Medo de quê? Medo de entender quem fala com quem, quando falo sozinho. Eu falo e ouço ao mesmo tempo. Mas, quem ouve o que eu falo? Por exemplo, se eu disser no escuro do meu quarto: ‘Onde eu errei naquele amor?’. Tenho medo de que alguém me responda na sala ao lado, de dentro do banheiro vazio, onde pinga o chuveiro e a privada gorgoleja. Uma coisa que me intriga é a forma de falar sozinho; devo falar com todos os ‘ss’ e ‘rs’, ou posso falar desleixadamente, pois afinal de contas eu sei o que estou falando? Aliás, nem preciso falar alto. Basta pensar entre resmungos, gemidos e risos abafados; mas, aí me assalta outro medo: há dentro de mim uma terceira pessoa ouvindo o diálogo de mim comigo mesmo? Mas não resisto aos clamores da norma culta e tento falar com alguma qualidade literária para mim mesmo. Assim, aumenta minha angústia. Uma pessoa fala – que sou eu –, outra pessoa ouve – que sou eu –, e uma terceira pessoa julga a qualidade do meu discurso, que também sou eu. Estarei maluco?”

Trecho do artigo O homem-bomba matou o ‘eu’, de Arnaldo Jabor
“Sou bailarino, giramundo,
poeta sem endereço, assustado e vivido
um menino encantado
que sonha viver pra sempre
na barra do seu vestido”

“Os homens não amam aquilo que cuidam que amam. Por quê? Ou porque o que amam não é o que cuidam; ou porque amam o que verdadeiramente não há. Quem estima vidros, cuidando que são diamantes, diamantes estima e não vidros; quem ama defeitos, cuidando que são perfeições, perfeições ama e não defeitos. Cuidais que amais diamantes de firmeza, e amais vidros de fragilidade; cuidais que amais perfeições angélicas, e amais imperfeições humanas. Logo, os homens não amam o que cuidam que amam. Donde também se segue que amam o que verdadeiramente não há; porque amam as coisas, não como são, senão como as imaginam; e o que se imagina, e não é, não o há no mundo.”

Trecho do Sermão do Mandato, de Padre Antônio Vieira

“Esperem, não devo escrever tudo o que me vem à cabeça. Às vezes, representamos como atores, perante nós próprios, e até aquilo que brota espontaneamente do coração costuma não ser sincero. Os sentimentos usam máscaras até em sua câmara mais íntima.”

Trecho do romance Abdias, de Cyro dos Anjos

terça-feira, 29 de março de 2011

“Eu gosto de você
como quem gosta
de sorvete,
pipoca no cinema,
pizza com guaraná.

E ela responde:
- Eu gosto de você

como alcoólatra diante do primeiro copo
suicida em mar de ressaca
Santa Teresa diante de um Deus sem fim.”

Poema de Clara de Goés

domingo, 13 de março de 2011

Responso Para Maridos Transviados
B Fachada


Deus te salve Sol divino
Tu que corres mundo inteiro
Se viste lá o meu marido
Não mo negues não
E os raios que vens deitando ao teu nascimento
Sejam dores e facadas que lhe atravessem o coração.

Que por mim ele endoideça
Que não possa nem comer,
nem beber,
nem andar,
nem amar,
nem com mulheres falar,
nem em casa particular
e todas as mulheres que veja
lhe pareçam cabras negras, bichas feias
E só eu pareça bem no meio delas.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

é triste... principalmente pelo que aconteceu. mas parece que só eu ainda não entendi o recado. e quer saber de uma coisa? foda-se... continuo acreditando em mim.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Lobo.




Já se passou tanto tempo desde que fiz a tatuagem, não sei porque ainda não publiquei isso.


Quando se pensa no significado do Lobo, uma conclusão é certa; Ainda que tenha para cada povo um significado diferente, o Lobo em todas as culturas sempre vai nos remeter a idéia da fome insaciável, do desejo, do anseio incontrolável...
Sempre admirado e temido, o lobo representava para os povos antigos que viviam em tribos nas florestas, a separação entre a vida e a morte. Era o medo da noite, do desconhecido. Não se entrava na floresta a noite, pois a noite na floresta era dos lobos e os lobos são implacáveis.
O Lobo é também símbolo da fidelidade(só possui uma parceira por toda a vida), União de um grupo.
No Japão o Lobo é invocado quando se deseja proteger um local. Os muçulmanos acreditam que o lobo é um obstáculo para a Meca e pode simbolizar a besta do apocalipse. Os Espanhóis antigos acreditavam que o lobo era a montaria dos feiticeiros.Outros povos da idade média acreditavam que as bruxas e os Bruxos se transformavam em lobos para irem aos Sabás.
-essa é a melhor parte-
Embora muitas vezes representado uivando para a lua,o lobo não uiva par a lua. O uivo do lobo pode ser por vários motivos: tristeza, alegria, solidão, para chamar outro lobo, mostrar sua posição, alertar sobre invasores, chamar para a caça, alertar para problemas ou mudanças, para pedir socorro e até mesmo para achar companhia.
Mas é verdade que eles uivam mais nas noites de Lua cheia.Afinal, a lua cheia proporciona maior luminosidade e consequentemente melhora a visão deles e o sucesso nas caças, o que os deixa felizes.
Para resumo, eu acredito que uma tatuagem de lobo significa, amizade, grupo de amigos, lealdade, desejo, proteção, insaciedade, fertilidade, ferocidade... Enfim,são tantos os significados que somente o tatuado pode dizer o que significa a sua tattoo de lobo.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Não sei se foi por preguiça, por condicionamento, pela dificuldade de estarmos plenamente atentos no instante de cada ação. O fato é que a planta havia morrido há semanas e durante todo aquele tempo eu continuei a regá-la, como se estivesse ali. O vaso cheio de terra, vazio de verde, permanecia no mesmo lugar, entre os outros, como se nada houvesse acontecido. Toda vez que eu repetia o movimento, eu me dava conta da estranheza do meu gesto, mas acabava me entretendo com outra coisa e adiava mais uma vez a retirada do vaso.

Outra hipótese é o embaraço que às vezes temos para reconhecer a morte das coisas. Para aceitar que o tempo delas acabou, embora possa ser tão óbvio como um vaso sem planta. A começar pelos padrões de comportamento que já repetimos com desconforto porque em nada se parecem com as pessoas que somos agora. Talvez evitemos retirá-las do nosso contexto porque a retirada costuma afetar a estrutura aparentemente organizada do conjunto, como acontece no jogo de pega-varetas. A maioria de nós aprendeu a não mexer com o que está quieto, mesmo quando essa quietude significa que não corre mais nenhum vento de vida ali.

Nossos gestos de desapego são capazes de criar espaço para o novo. Minha mãe plantou outra muda de planta naquele vaso. A última vez que vi, estava florida.


Ana Jácomo